O Governo Federal aprovou o projeto de lei do Desenrola, programa que, além de permitir a renegociação de dívidas, também dá 90 dias para os bancos definirem um valor máximo para os juros rotativos, aqueles que são cobrados quando alguém atrasa o pagamento da fatura do cartão de crédito.

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Atualmente, a taxa média do rotativo é de 445,7% ao ano, segundo levantamento do Banco Central. Se dentro de três meses os bancos não criarem um novo teto, a lei estabelece que o valor máximo dos juros para essa modalidade seja baixado para 100% ao ano.

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Será que isso significa que agora é mais vantajoso usar o cartão de crédito? Vale ressaltar que, mesmo se os juros baixarem, nunca é uma boa ideia atrasar a fatura. Segundo a educadora financeira e CEO da Invest4U, Jenniffer Almeida, “se você não tem o dinheiro para pagar o total ou gastou mais do que deveria, a melhor solução é parcelar a fatura. Enquanto não terminar o pagamento, faça as compras no débito e não gaste com nada supérfluo, apenas o essencial”.

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No geral, existem pontos positivos e negativos em usar o cartão de crédito. Quem toma cuidado com as armadilhas e não atrasa a fatura pode até obter vantagens com esse modo de pagamento. Confira a seguir algumas dicas.

Quando comprar com o cartão de crédito ?

Antônio de Carvalho Júnior, Group Product Manager no Méliuz, defende que os cartões de crédito são opções práticas para viagens e compras online e podem ser usados nesses casos. Além disso, os cartões também têm papel crucial em situações de emergência: “um cartão pode servir como uma reserva para cobrir gastos inesperados, como despesas médicas”, explica o Carvalho.

Ele ainda ressalta a importância do controle financeiro: “antes de usar o cartão de crédito em qualquer compra, é importante garantir que será possível pagar o valor total da compra quando a fatura chegar. Isso só é possível com um planejamento financeiro estruturado, que contemple os gastos essenciais e tenha espaço para uma reserva de emergência”.

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A planejadora financeira Jenniffer Almeida, por outro lado, dá um conselho inusitado quando o assunto é comprar com cartão de crédito. Segundo a especialista em finanças, o ideal é “esquecer o cartão de débito e usar apenas o crédito, tanto para as compras na padaria em que você vai gastar apenas R$ 5,00, quanto para as compras grandes que vão ser parceladas em 10 vezes”.

Benefícios de usar o cartão de crédito

Existem algumas condições para que o cartão de crédito se torne a melhor forma de pagamento. Em primeiro lugar, é preciso ter cartões sem anuidade. Existem bancos e fintechs que não cobram essa taxa e, em diversos casos, é possível negociar. Jenniffer afirma que “as pessoas têm preguiça, mas é muito importante separar uma horinha do dia para ligar na central do cartão e renegociar para não pagar a tarifa”.

A estratégia de concentrar gastos deve ser colocada em prática, principalmente, quando o cartão de crédito oferta cashback, descontos ou milhas que podem ser trocadas por passagens aéreas. Esses benefícios fornecem retorno financeiro e podem até mesmo pagar uma parte da fatura mensal.

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Mas cuidado! É importante calcular se o cashback e outros benefícios são realmente vantajosos. “Por exemplo, se um cartão oferece 1% de cashback, é preciso considerar também as taxas anuais, taxas de juros e outras taxas associadas ao cartão de crédito para avaliar o benefício líquido”, diz Carvalho Júnior.

Os especialistas ainda ressaltam que o uso constante do cartão de crédito também ajuda bancos e outras entidades financeiras a conhecer melhor a forma como você lida com o dinheiro. Carvalho Júnior defende que pagar as despesas no crédito pode ser uma forma de conseguir empréstimos no futuro. “Usar o cartão de crédito de forma responsável ajuda a construir ou melhorar o histórico de crédito do consumidor. Isso pode ser útil ao solicitar empréstimos no futuro, como para comprar uma casa ou um carro, e pode resultar em taxas de juros mais baixas”.

Cuidados necessários no uso do cartão de crédito

Como já deve ter percebido, os cartões de crédito podem trazer diversas vantagens. Porém, também são necessários alguns cuidados para não se enrolar em dívidas.

Jenniffer Almeida alerta para a necessidade de ter controle e conhecer os próprios limites: “o ideal é que a fatura não comprometa mais do que 40% do salário de uma pessoa, porque mesmo que alguém concentre seus gastos no cartão, ainda terá boletos, como a faculdade, prestação da casa, água, luz, aluguel etc”.

Para isso, ela defende a necessidade de metas e de um rígido controle. “Defina o máximo que pode ser gasto com restaurantes, farmácias e lazer, e quando a fatura chegar, confirme se os valores estão dentro do limite”, ela alerta.

Para evitar o gasto desenfreado em múltiplos cartões, a especialista recomenda que os consumidores tenham no máximo dois cartões de crédito. “Podem ocorrer fraudes e bloqueios, se você tiver apenas um cartão pode se tornar refém de um banco e ficar sem cartões caso haja um cancelamento”.

Atenção para as fraudes

Ainda sobre fraudes, também é importante conferir as despesas por questão de segurança. “Assim que a fatura mensal do cartão de crédito chega até o usuário, é importante revisá-la com atenção e certificar-se de que todas as transações estão precisas e que não há cobranças não autorizadas”, defende Carvalho Júnior.

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Por fim, vale relembrar as dicas básicas de segurança. O executivo da Méliuz repete o fato de ser essencial não divulgar suas informações: “nunca compartilhe detalhes do cartão de crédito como o número, a data de validade ou o código de segurança, com pessoas ou sites não confiáveis”.

Quando é mais vantajoso parcelar ?

Quando usado de maneira correta e dentro dos limites, o parcelamento no cartão de crédito pode ser uma forma de economizar e investir.

Para saber quando vale a pena parcelar, basta usar uma regra simples. Quando o preço de um produto é exatamente o mesmo à vista e parcelado, ou seja, o parcelamento não tem juros, o melhor é parcelar.

Jenniffer recomenda que depois do parcelamento, o comprador invista o dinheiro que usaria para pagar à vista em uma aplicação com liquidez diária. “Temos que deixar o dinheiro trabalhando! Pense assim, eu vou dar todo dinheiro inteiro à vista ou vou investir?”, ela defende.

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Carvalho Júnior concorda com a visão e acrescenta que em diversos casos essa prática permite que o usuário mantenha seu dinheiro em investimentos que geram retornos maiores do que os juros pagos no parcelamento.

Basta imaginar que, se o pagamento fosse feito à vista, o preço total seria descontado de sua conta. Por outro lado, ao parcelar e fazer uma aplicação, o comprador pode fazer o saque apenas do valor da prestação todos os meses e garantir que o seu dinheiro renda ao longo dos meses.

Antes de sair parcelando todas as suas compras, é importante analisar se há um desconto significativo ao pagar à vista. O executivo da Méliuz ainda ressalta que essa estratégia de parcelamentos “deve ser utilizada de forma responsável e com organização financeira, de forma que o usuário do cartão de crédito não acabe gastando mais do que recebe e tenha o cuidado de criar uma reserva financeira para emergências”.